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O triunfo eleitoral de Lula da Silva, em oito pontos chave

A figura mais relevante da esquerda latino-americana ganha pela terceira vez a presidência da maior economia regional

Luiz Inácio Lula da Silva faz um discurso após sua vitória no segundo turno das eleições, em São Paulo, Brasil.
Luiz Inácio Lula da Silva faz um discurso após sua vitória no segundo turno das eleições, em São Paulo, Brasil.Sebastiao Moreira (EFE)
Federico Rivas Molina

Lula voltou ao poder no Brasil. O retorno da figura mais importante da esquerda latino-americana na história recente foi confirmado neste domingo com sua vitória sobre o extrema-direita Jair Bolsonaro. A vitória de Lula, sua terceira vitória em uma eleição presidencial, é o resultado de uma série de fatores. Aqui estão os oito fatores-chave:

- Medo de deriva autoritária. O medo dos brasileiros de uma escalada autoritária do presidente derrotado, Jair Bolsonaro, compensou o desinteresse que muitos ainda sentem por Lula, a quem não perdoam os atos de corrupção dos seus dois governos anteriores. Lula baseou sua campanha em uma batalha entre o amor, representado por sua candidatura e o ódio, personificado por seu rival. As ameaças de Bolsonaro de não reconhecer os resultados eleitorais e o apoio das Forças Armadas, a quem ele entregou postos-chave do governo, como o Ministério da Saúde em meio da pandemia, fortaleceram a opção do candidato de esquerda de defender a democracia.

-A pandemia. Com quase 700.000 mortes pelo coronavírus, sua gestão desastrosa fez que Bolsonaro sentisse seus efeitos sobre os resultados das urnas. Os brasileiros não perdoaram pela demora na compra de vacinas, milhares de mortes evitáveis e sua falta de empatia para com as vítimas. Ele se proclamou anti-vacinas, se opôs às quarentenas decretadas pelos governos estaduais e promoveu o uso de medicamentos sem sustentação científica.

-Ampla aliança. Lula, como em suas duas vitórias eleitorais anteriores, foi capaz de ampliar sua base eleitoral com alianças à esquerda e direita. A escolha de Geraldo Alckmin, um líder de centro-direita que derrotou nas eleições presidenciais de 2006, como seu companheiro de candidatura, aproximou-o ao voto moderado que era desconfiado pelo Partido dos Trabalhadores. Lula acrescentou o apoio, a título pessoal, do ex-presidente social-democrata Fernando Henrique Cardoso, um rival histórico. Todos eles foram movidos por um espírito de cruzada democrática contra os discursos de ódio propagados por Bolsonaro. Á esquerda, Lula trouxe de volta figuras como a ex-ministra do meio ambiente de seu primeiro governo, Marina Silva.

- A memória de tempos melhores. A votação no Nordeste, sua região natal e a mais pobre, mais uma vez foi esmagadoramente para Lula. As pessoas mais pobres lembram que há 15 anos atrás estavam melhor do que estão agora e esperam um retorno a essa bonança. A satisfação desta demanda de prosperidade será um dos principais desafios do novo presidente: o vento de cauda que empurrou as economias latino-americanas para um crescimento sem precedentes não existe mais.

-O efeito Jefferson. Agora é possível medir o impacto da proximidade pessoal e ideológica de Bolsonaro com Roberto Jefferson, o ex-deputado que no domingo passado recebeu com tiros e granadas os policiais que se preparavam para prendê-lo em uma ordem judicial. O presidente da extrema-direita rapidamente tentou-se distanciar de seu aliado e tentou ligá-lo ao PT porque recebeu subornos e denunciou o caso mais tarde conhecido como Mensalão. Mais os danos à Bolsonaro já foram feitos. Se havia um voto não decidido ou disposto a ficar em casa, optou por Lula.

-O espinho de São Paulo. Como esperado, Bolsonaro ganhou confortavelmente no estado mais rico do Brasil. Seu candidato a governador, Tarcísio Gomes Freitas, ex-ministro nascido no rival Rio de Janeiro, venceu Fernando Haddad, ex-candidato à presidência do PT e ex-prefeito de São Paulo. Lula terá que enfrentar um bolsonarista à frente do governo mais importante do país.

-Um Congresso de direita. Lula não terá apenas um contrapeso em São Paulo. Ele terá que governar com um Congresso claramente conservador. O partido de Bolsonaro, o Partido Liberal (PL), terá a maior bancada da Câmara de Deputados, com 99 assentos, um em cada cinco. Será muito difícil para o PT de Lula e seus aliados construir uma maioria. Lula terá que mostrar que ele ainda tem intactas as habilidades de negociação que foram a marca de seus dois primeiros mandatos no cargo.

-O voto evangélico. Mais de 65 milhões de brasileiros, um terço da população, se declaram evangélicos. No primeiro turno, 65% votaram em Bolsonaro. Embora seja muito cedo para falar de porcentagens, o resultado de domingo teria sido inatingível para Lula se ele não tivesse participado daquela fatia da votação. O vencedor usou a última semana da campanha para chegar a este setor da população com uma carta na qual ele prometeu não fechar igrejas, uma das mentiras que o bolsonarismo espalhou nas redes para prejudicá-lo. Uma campanha agressiva pró-Bolsonaro nas igrejas pentecostais também acabou afugentando os fiéis mais moderados, que finalmente se voltaram para o candidato de esquerda.

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Sobre la firma

Federico Rivas Molina
Es corresponsal de EL PAÍS en Argentina desde 2016. Fue editor de la edición América. Es licenciado en Ciencias de la Comunicación por la Universidad de Buenos Aires y máster en Periodismo por la Universidad Autónoma de Barcelona.

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